2 de jul. de 2016

Monumentos históricos do Ceará-Mirim: Solar dos Antunes



Ei-lo magnífico, imponente e majestoso, encravado na Praça do Mercado de Ceará-Mirim, abrigando a sede da Prefeitura Municipal.
 
Construído no auge do ciclo da cana-de-açúcar, seu aspecto retrata um dos períodos mais prósperos da região, quando predominavam os senhores de engenho, dirigindo os destinos do município.
 
No Solar dos Antunes residiu, parte de sua infância e adolescência, a sinhá-moça que toda Ceará-Mirim conheceu: dona Maria Madalena Antunes Pereira, a qual no seu livro “Oiteiro”, edições Pongetti, teve oportunidade de assim referenciá-lo:
“O sobrado! Templo que recolheu a velhice e os últimos dias daqueles que me deram o ser. Como esquecê-lo?
 
De suas amplas janelas contemplei por muitos anos, o esmeraldino brilho dos canaviais e aspirei trazido pelo vento o aroma do fumo das chaminés distantes, círios brancos dispersos na toalha verde do vale, quais turíbulos espargindo por toda parte o incenso do trabalho.
 
O sobrado exaltado, anos depois, pelos lampejos mentais de Umberto Peregrino, que o frequentou muito jovem, assim como Galdino Lima, marciano Freire, Olavo Montenegro, Raimundo Antunes, João Neto, Alberto Carrilho, Pedro Varela, Nilo Pereira, Aprígio Câmara, Letício de Queiroz e muitos outros, é, hoje, apenas querida mansão vazia e silenciosa sem as antigas reuniões brilhantes e familiares dos seus salões festivos.
 
Moças e rapazes de duas gerações casaram e envelheceram, dispersando-se o alado bando de pardais alegres, hoje saudosos e tristonhos...
 
O sobrado! Símbolo de uma modesta grandeza que passou”.
Tive duas tias que por algum tempo ali residiram: Luiza e Anita Cavalcanti e, quando eu as visitava, subia por suas longas e pesadas sacadas, descortinando da ampla sala de jantar a enorme visão do vale rosa-verde que enfeita a silhueta da casa-grande do Guaporé adormecida em seu silêncio centenário. Que cenário maravilhoso!

Houve uma época em que o “Solar dos Antunes”, por concessão de seus herdeiros, serviu para a realização de bailes carnavalescos, recebendo o nome de sobrado Bahia.
 
Ali se apresentaram os famosos blocos compostos por jovens da melhor sociedade ceará-mirinense que formaram os blocos das “Bahianas”, dirigido por moças da família Gesteira, e as “Havaianas”, comandadas por Cremilda Varela, que em verdadeiro duelo coreográfico desafiaram-se nos salões do velho solar.
 
Quem for a Ceará-Mirim, não pode deixar de visita-lo, pois é uma das maiores relíquias do período da aristocracia rural ainda existente.                                              *Artigo do Acadêmico JOSÉ DE ANCHIETA CAVALCANTI,  publicado em O GALO – Jornal Cultural, em agosto de 2002.

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