9 de jan. de 2012

Mais um problema no caminho Ceará-Mirim/Natal

Cidades
Edição de domingo, 8 de janeiro de 2012 
Igapó: aqui o trânsito engancha
Entroncamento de Natal, Macaíba e São Gonçalo é um tormento diário para os motoristas que trafegam no local
Sérgio Henrique Santos //sergiohenrique.rn@dabr.com.br

Literalmente os motoristas se "engancham" no Cebolão de Igapó, Zona Norte da capital. Os problemas de trânsito no trecho conhecido como "Gancho" se localizam no entroncamento de quatro vias importantes que dão acesso direto a três municípios - Natal, São Gonçalo do Amarante e Macaíba, e vários destinos: Zona Norte, Ceará-Mirim, litoral Norte, Touros, apenas para citar alguns. Ali existem vias municipais (avenidas Presidente Médici e Tomaz Landim), estaduais (RN-060, a Estrada de Regomoleiro) e uma federal (BR 101-Norte). Ou seja, é problema para todo lado, e a solução depende da responsabilidade em todas as esferas: governos federal, estadual e municipais.


Situação se agrava na alta estação, quando aumenta fluxo de veranistas que vão para litoral Norte. Foto: CARLOS SANTOS/DN/D.A PRESS
Todos os motoristas que usam o trecho colecionam reclamações, especialmente com os semáforos de quatro tempos instalados no Gancho. Na terça-feira, 3, por volta das 9h30 da manhã, o militar da reserva Geraldo de Oliveira estava parado num engarrafamento. "Todo dia nesse horário tem esse problema. Pra seter uma ideia, esse sinal tem três ou quatro tempos, não sei ao certo. Mas se passar cinco carros é muito. O resto, tome gelo".

Luiz dos Santos, taxista, trabalha num ponto em frente ao Nordestão, já no município de São Gonçalo. "Trabalho nesse ramo há mais de cinco anos, e não tem hora pra haver esse problema. A solução seria um viaduto ou a rotatória com sinalização adequada. Já contamos quatro estudos de topografia por aqui, e estamos aguardando um fim pra isso", diz ele.

O transporte público também é prejudicado. José Wildes, motorista da linha 77, Parque dos Coqueiros / Mirassol, reclama que normalmente gasta 25 minutos num trecho que, com via livre, não passaria nem três. "A cada dia piora. Quem trabalha nessas linhas de ônibus sofre muito. No terminal os despachantes cobram o cumprimento do horário. Os passageiros também cobram, e você não tem como fazê-lo cumprir. De lá para cá também tem o mesmo problema, especialmente quando os ônibus da Guararapes são liberados. A fila vai bater depois do posto daSkol. É muito transtorno".

O Cebolão Igapó também é utilizado pelos veranistas em busca de lazer e descanso no litoral Norte, especialmente na região de Touros. O marinheiro Schneider Azevedo, levava a família para a praia no início da semana temendo que a situação piorasse com a proximidade do feriado de Santos Reis, na última sexta-feira, dia 6. "Nessa época de verão esse engarrafamento é muito comum. Com o fluxo de pessoas para as praias, o movimento aumenta ainda mais", falou ele.

José Ribamar Pinto Damasceno, auditor fiscal, também reclama da demora no engarrafamento. Ele levou 25 minutos para percorrer o trecho entre o viaduto de Igapó e o gancho que leva o mesmo nome. "Nos finais de semana ninguém aguenta. Qualquer acidente que haja na ponte, por menor que seja, o engarrafamento faz com que os motoristas passem entre 45 minutos e uma hora aqui. Hoje nós estamos aqui há um tempão, e não houve nada lá atrás", observou.

Sem sinal, trânsito flui bem


Congestionamentos são rotina, diz o taxista Luiz dos Santos. FOTOS: CARLOS SANTOS/DN/D.A PRESS
O site Via Certa Natal acompanha diariamente o trânsito na capital do Estado e em alguns trechos do interior. Hudson Silvestre, idealizador do serviço que orienta os motoristas pela internet e redes sociais, revela que o chamado Gancho de Igapó tem algumas curiosidades. "Nas terças e sábados, o congestionamento na Tomaz Landim vai bater no viaduto Igapó, o dia inteiro. Nos outros dias, o problema se concentra no fluxo contrário, sentido capital. Isso se repete semanalmente sem que haja colisão ou nada que justifique", aponta.


O marinheiro Schneider Azevedo evitou espera no feriadão
Os motoristas também revelam outra curiosidade do entroncamento em Igapó. "Se esse sinal tiver quebrado, o trânsito flui normalmente. É impressionante, mas é a mais pura realidade", conta José Wildes, o motorista do 77. "Você só vê isso aqui desocupado de carros se o sinal quebrar. O pessoal sabe se organizar melhor do que com o sinal funcionando", confirma o taxista Luiz dos Santos. "Seria simples solucionar esse problema, inclusive já sugeri à PRF. O ideal seria que ficasse um guarda controlando o tempo dos semáforos com uma botoeira na mão", relata Hudson Silvestre.

"Sangria desatada": para soluções, não há prazos

Não há nenhum plano a nível municipal, estadual ou federal para resolver o problema dos engarrafamentos no trecho conhecido como Gancho de Igapó a curto prazo. Em nível de município, a responsabilidade sobre o trânsito é da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana de Natal (Semob). Além de aguardar a duplicação da Avenida das Fronteiras (que dá acesso à Av. Presidente Médici), prevista no projeto do Pró-Transporte, a secretaria também aguarda uma obra que vai ser executada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT): a construção de um viaduto.

Responsável pela manutenção semafórica, a Semob garante que o que lhe coube já foi feito no trecho. "Atendemos ao pedido da Polícia Rodoviária Federal (PRF), e mudamos o sentido de fluxo de duas vias. Elas passaram a ter sentido único ali nas imediações da loja Insinuante. Mas a solução definitiva só virá com a construção desse viaduto do DNIT. Os problemas de trânsito naquele trecho não afetam apenas aos motoristas, mas também o sistema de transporte público. Os motoristas têm horários a cumprir, que é pré-determinado", destaca o secretário-adjunto de trânsito da capital, Haroldo Maia.

Já o diretor-geral do Departamento Estadual de Estradas de Rodagens (DER), Demétrio Torres, classificou o problema com uma expressão tipicamente regional. "Ali é uma sangria desatada", destaca Demétrio. "Não se resolve resolvendo apenas coisas pontuais, e sim apresentando soluções maiores". O diretor alega que o DER está preocupado com o problema, e o levou à mesa de negociações com o diretor nacional do DNIT, general Jorge Fraxe, que visitou o Estado semana retrasada. "Ficamos acertados de encontrar uma solução para aquele trecho. Ele está incluído nos planos de melhorias nas rodovias, assim como outras obras, como os acessos ao futuro Aeroporto de São Gonçalo do Amarante. Tem que pensar num grande projeto como solução para aquele setor", avisa Demétrio.

Em nível federal, existem melhorias previstas para ser executadas no Cebolão Igapó, executado pelo DNIT. Justamente o viaduto tão aguardado por autoridades locais e usuários das vias. A superintendência regional do órgão, em Natal, disse através de nota que o projeto está em "fase de contratação de empresa para elaborar o projeto do viaduto". Segundo o órgão, a intenção é "solucionar problemas de tráfego na área da BR-101 (Gancho de Igapó)". O DNIT não informou um prazo para início das obras nem para conclusão do viaduto.

Apenas cinco fiscais para duas BRs

Mais realista é a opinião da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que fiscaliza o trecho e sugeriu a mudança de fluxo nas duas vias, solução atendida pela Semob. "A ideia de manter um policial nos horários de maior movimento não é possível porque nossa equipe de plantão cobre toda a BR-406 e também a BR 101-Norte. São entre quatro e cinco homens no máximo por escala de serviço e não é viável para o serviço da PRF dedicar uma pessoa para ficar ali nos horários de maior movimento", reconhece o inspetor Everaldo Morais, da PRF. "Durante a ocorrência de algum acidente, o que tem sido feito é o envio de uma equipe daquele posto no caminho de Ceará-Mirim para controlar o fluxo", salienta Morais.

O inspetor contou que os quatro ou cinco agentes que são escalados por turno no posto da PRF que fica na estrada de Ceará-Mirim são os responsáveis pelo monitoramento dos 181 quilômetros da BR-406 que segue da capital até Macau, e da rodovia BR-101 Norte, que vai de Natal até Touros, distante 98 quilômetros da capital. AfirmaMorais: "Todos sabemos da necessidade urgente de obras de engenharia naquele trecho do gancho. Só que hoje o que temos é um problema com impossibilidade de resolvê-lo apenas com recursos humanos". Sem previsões mais otimistas e enquanto a solução não vem para os motoristas, haja paciência e engancho para atrapalhar.