9 de jun. de 2016

Artigo: Dilma saiu, e agora?* por Kelvin Dantas Fernandes Praxedes


Agora é fato, a presidente Dilma entrou no período que podemos chamar de contagem regressiva para o término de seu mandato. Falo isto porque dificilmente teremos uma reviravolta no quadro que tem se apresentado em nossa plataforma política nos próximos cento e oitenta dias. Grande é o debate em torno do mérito do processo iniciado na Câmara dos Deputados e prosseguido no Senado Federal. 

Como um simples observador social é possível perceber que as razões jurídicas as quais definharam a presidente do Brasil não se configuraram como um elemento determinante para este desfecho. Aliás, dificilmente alguém que tenha amargado estatísticas tão desfavoráveis de aprovação popular conseguiria sair ileso de uma situação como esta, afinal de contas temos um poder legislativo que o que mais provoca preocupação a ele é, sem dúvida, transparecer de forma razoavelmente conveniente que está do lado do povo. Mas e agora, será que nossos problemas estão resolvidos ou criamos outro problema a se resolver? Será que retirando o grupo de políticos que exercia o poder até então e inserindo outro temos uma perspectiva de surgimento de ideais cívicos e de reconquista da confiança que andava meio perdida neste contexto de caos político e social? Receio que não! A discussão quanto a uma real e necessária mudança de nossos governantes transpassa a polêmica retirada de uma presidente da República. Envolve mudanças estruturantes na forma de conceber as relações sociais, na forma de exercício do poder e na aplicação prática em cada um de nós de padrões éticos dos quais, possivelmente, nunca desfrutamos. 

Exigimos uma conduta proba daqueles que ocupam cargos eletivos, mas efetivamente não nos dispomos a vivenciar algo nos mesmos termos, e a consequência disto é uma atmosfera social perversa e aquém do que se espera de uma sociedade civilizada. Na tentativa de compreender o porquê desta triste realidade foi possível identificar um ingrediente dos mais nocivos para qualquer ambiente social, uma espécie de vírus com alto poder destrutivo que atinge diversos segmentos da sociedade, tais como associações, sindicatos e até mesmo igrejas, um elemento que insiste em fazer parte da estrutura humana, mas que no Brasil alcança proporções gigantescas, estamos falando da corrupção. Este fenômeno nefasto tem feito parte de nosso povo e inundado as mais diversas esferas da sociedade brasileira. A corrupção se manifesta entre amigos, na escola, na igreja, em empresas, organizações públicas e diversas outras áreas do convívio humano causando um prejuízo de cerca de 85 bilhões de reais por ano aos cofres públicos, segundo o Capítulo Brasileiro da Organização Mundial de Parlamentares contra a Corrupção (GOPAC/2015). 

Quando somos questionados sobre o que poderia ser feito para mudar uma realidade tão dura e cruel em nosso país, nos vemos obrigados a afirmar que temos um longo caminho a seguir, pois as raízes criadas estão profundas e exigem de nós rupturas que nem sempre estamos dispostos a enfrentar. Mas intenciono trazer à tona um relato importante sobre o grande mau que a corrupção, principalmente em sua forma política, vem causando em nosso país e consequentemente em nossas vidas. 

Chamo a todos para que à luz da Palavra de Deus, conforme encontramos no livro do profeta Isaías que diz: “O que anda em justiça, e o que fala com retidão, que arremessa para longe de si o ganho de opressões, e que sacode das suas mãos todo suborno, que tapa os seus ouvidos para não ouvir falar de sangue, e fecha os olhos para não ver o mal; este habitará nas alturas, e as fortalezas das rochas serão o seu refúgio. O seu pão lhe será dado, e as suas águas serão certas...” (Is. 33:15,16), tiremos da vida pública os maus políticos, combatendo veementemente a maldita corrupção começando a partir das próximas eleições, cobrando honestidade, dignidade e compromisso dos candidatos. Esta, absolutamente, não será uma tarefa fácil, pois estamos lidando com a ganância humana, capaz de se aproveitar das mais absurdas situações para fazer valer sua sede por vantagens indevidas que direta ou indiretamente poderão provocar tragédias irreparáveis. Mas o pior não é isto, o pior é saber que a maioria da população, diferentemente de países mais civilizados, se cala diante destas atrocidades, inclusive a sociedade civil organizada, da qual tomarei como exemplo as igrejas, seus líderes e seguidores, que não apenas se calam, mas em determinadas situações tornam-se parte de práticas tidas como corruptas, provocando uma contradição sem precedentes entre o que Cristo ensina e a aplicação prática por parte de alguns de seus seguidores. 

É bem verdade que sob o olhar do evangelho não teremos um governo humano que seja totalmente íntegro ou puro, pois estamos aludindo a homens que carregam em sua essência o pecado, conforme o rei Davi falou nos Salmos 51: “Eu nasci no pecado, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51:5). Mas acreditamos ser possível criarmos um ambiente com maiores condições de igualdade, equilíbrio, oferta de oportunidades e usufruto de padrões mais aceitáveis de convívio social, tais como experiências bem sucedidas de um pacto social encontradas em outras partes do mundo. 

Quando nos dispomos a ter um referencial em Cristo passamos a entender que a retidão em nosso andar pode ser alcançável, percebemos que embora tenhamos uma natureza corrupta, esta pode ser sucumbida em nome de um novo olhar fundamentado numa vida em Cristo Jesus. Concluo este texto na esperança de que caminhemos juntos lutando contra a corrupção em suas mais diversas manifestações, sem nos omitir, fazendo valer as palavras do Senhor: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5:14,16). Isto sem dúvida exigirá de nós uma mudança de paradigmas, afinal de contas é possível perceber que muitas vezes há um ônus social quando buscamos ser honestos, corretos ou éticos, porém como um cidadão cristão acredito ser válido o preço a se pagar na defesa de tais virtudes, fomentando-as em nosso meio para que se concretize em nossas vidas a Palavra de Deus: “Vós sois a luz do mundo...”(Mt 5:14). 

Até a próxima oportunidade e que Deus abençoe a todos!


* Kelvin Dantas Fernandes Praxedes
Sociólogo, Cientista Político, Especialista em Gestão Pública, Técnico em Comércio Exterior e Diácono da Igreja Evangélica Bom Retiro (Ceará-Mirim/RN)